Criança explorando brinquedos sensoriais em ambiente acolhedor e tranquilo

Criança neurodivergente: significado e acolhimento

Neurodivergente é uma palavra que descreve muitas das crianças que acompanho e que chegam ao consultório com dúvidas importantes:

Eu atendo diariamente muitas famílias que chegam ao consultório com dúvidas importantes:
“Meu filho é muito diferente das outras crianças?”
“É normal tanta sensibilidade?”
“Será que pode ser autismo? TDAH? Apenas um atraso?”

Quero começar dizendo algo essencial: todas as crianças têm seus próprios jeitos de sentir, aprender e se comunicar. Quando falamos em neurodivergência, estamos apenas reconhecendo que alguns cérebros funcionam de forma diferente — não pior, não melhor, apenas diferente.

E, quando entendemos essa diferença, abrimos espaço para um desenvolvimento muito mais saudável, seguro e acolhedor.

O que é ser uma criança neurodivergente

Neurodivergência é um termo amplo que descreve crianças cujo funcionamento neurológico se diferencia do que chamamos de “neurotípico”.
Isso inclui crianças com:

  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

  • TDAH

  • Transtorno do Processamento Sensorial

  • Dislexia, disgrafia, discalculia

  • Altas habilidades/superdotação

  • Divergências de linguagem e comunicação

Essas crianças podem apresentar:

  • Forma única de brincar ou interagir

  • Interesses intensos

  • Sensibilidade a sons, luzes, texturas

  • Dificuldades em transições e mudanças

  • Atrasos ou diferenças na fala

  • Facilidade em aprender certos conteúdos e dificuldade em outros

  • Muita energia ou dificuldade de manter foco

  • Modos particulares de expressar emoções

A neurodivergência não define o potencial da criança, mas nos mostra como ela enxerga o mundo — e como podemos ajudá-la a florescer.

Como posso identificar sinais de neurodivergência

Alguns sinais que costumo observar nas consultas de bebê, pré-escola e fase escolar:

1. Comunicação e linguagem

  • Atraso para falar

  • Dificuldade em manter conversas

  • Uso diferente de gestos e expressões faciais

2. Interação social

  • Prefere brincar sozinha

  • Dificuldade em entender regras sociais

  • Não procura outras crianças com frequência

3. Processamento sensorial

  • Incômodo com barulhos, texturas ou ambientes agitados

  • Busca sensações intensas (pular, girar, apertar objetos)

  • Seletividade alimentar importante

4. Padrões de comportamento

  • Movimentos repetitivos (balançar, alinhar objetos)

  • Sofrimento com mudanças na rotina

  • Interesse intenso por temas específicos

5. Atenção e impulsividade

  • Muita dificuldade de foco

  • Mudança rápida de atividades

  • Agitação excessiva

Esses sinais não fecham diagnóstico sozinhos.
Mas quando aparecem com intensidade e impacto na rotina, vale sim buscar uma avaliação especializada.

Atenção importante sobre ansiedade

Ansiedade é comum em adultos neurodivergentes, mas o tratamento medicamentoso para ansiedade não é indicado para crianças sem avaliação clínica rigorosa.


Quando trato ansiedade infantil, sempre priorizo

  • Intervenções comportamentais

  • Orientação familiar

  • Apoio emocional

  • Terapias baseadas em evidência

  • Organização de rotina

  • Manejo sensorial

Medicamentos só são considerados em situações muito específicas e sempre após avaliação detalhada.

Como promover uma infância acolhedora para crianças neurodivergentes

1. Entenda o ritmo da criança

Cada criança aprende e amadurece no seu tempo.
Compare menos, observe mais.

2. Adapte o ambiente, não a criança

  • Reduza estímulos quando necessário

  • Ofereça brinquedos sensoriais

  • Mantenha rotinas previsíveis

  • Prepare a criança para mudanças

Ambientes ajustados favorecem autonomia e segurança.

3. Valorize os interesses especiais

Interesses intensos são portas de entrada para vínculo, comunicação e aprendizagem.

4. Estimule sem pressionar

Brincar é a forma mais poderosa de desenvolvimento.
Respeite limites e celebre cada avanço, mesmo os pequenos.

5. Considere as terapias adequadas

Dependendo das necessidades da criança, podem ajudar:

  • Fonoaudiologia

  • Terapia ocupacional (com integração sensorial)

  • Psicologia infantil

  • Psicopedagogia

  • Orientação parental

Nenhuma terapia deve ser vista como “treinar a criança”, mas sim apoiar seu desenvolvimento natural.

6. A família também precisa de acolhimento

Cuidar de uma criança neurodivergente é lindo, mas pode ser cansativo.
Busque apoio, informação de qualidade e profissionais que respeitem a singularidade da criança.

Quando eu recomendo avaliação especializada

Procure avaliação quando você observa:

  • Atrasos persistentes na fala

  • Dificuldades importantes de interação

  • Comportamentos repetitivos intensos

  • Seletividade alimentar extrema

  • Dificuldade de sono que afeta a rotina familiar

  • Grande agitação ou dificuldade de foco

  • Regressões no desenvolvimento

  • Sofrimento emocional evidente

Quanto mais cedo avaliamos, mais cedo podemos ajudar.

Mensagem final: seu filho merece ser compreendido, não corrigido

Como pediatra focada em neurodesenvolvimento, vejo diariamente crianças florescendo quando finalmente são entendidas.

Neurodivergência não é um rótulo.
É um mapa, que nos ajuda a oferecer:

  • Acolhimento

  • Estratégias

  • Terapias adequadas

  • Compreensão da criança como ela realmente é

Se você tem dúvidas sobre o comportamento ou desenvolvimento do seu filho, estou aqui para ajudar.

Agendar uma consulta é o primeiro passo para oferecer mais segurança, tranquilidade e bem-estar ao seu filho.

Dra. Isabelle Faria Tiburcio
CRM/SP 177388 • RQE 128764

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