Ser mãe de uma criança autista é caminhar por um território cheio de descobertas — algumas lindas, outras difíceis, e muitas totalmente inesperadas. Ao longo dos anos atendendo famílias, aprendi que existem aspectos da maternidade atípica que quase ninguém comenta, mas que fazem toda a diferença na jornada.
Escrevo este texto com o coração aberto, como pediatra e como alguém que deseja que você, mãe ou pai, se sinta acolhido, compreendido e jamais sozinho.
1. Você aprende a interpretar o mundo pelos olhos do seu filho
Uma das coisas mais bonitas que vejo nas famílias é esse “despertar”.
De repente, você passa a prestar atenção em detalhes que antes passavam despercebidos:
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Textura da roupa,
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Intensidade do som,
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Rotina do ambiente,
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Forma como seu filho demonstra amor — que nem sempre é pelas palavras.
O autismo não redefine apenas a criança. Ele redefine toda a família, trazendo uma nova forma de perceber o mundo.
2. Nem sempre os marcos acontecem no “tempo esperado” — e tudo bem
Muitas mães me contam sobre a angústia de comparar seus filhos com outras crianças.
E aqui está algo muito importante:
O desenvolvimento no autismo acontece, mas segue um ritmo próprio.
Isso não significa atraso irreversível.
Significa individualidade neurobiológica.
Com apoio adequado — terapias, orientação familiar, ajustes ambientais — muitos avanços vêm com o tempo.
3. Os sinais são reais, mesmo quando o ambiente tenta minimizar
É muito comum escutar:
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É só uma fase
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Meninos falam mais tarde
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Cada criança tem seu tempo
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Ele só é mais sensível
Mas você, mãe, percebe algo diferente.
Seu coração sente.
E eu sempre digo: o coração de uma mãe é, muitas vezes, o primeiro instrumento diagnóstico.
Se há dúvida sobre comunicação, comportamento, sono, alimentação, seletividade, irritabilidade, regressão ou interação social, vale investigar. Avaliação não rotula — orienta.
4. A sobrecarga emocional é real — e não é culpa sua
Cuidar de uma criança autista exige:
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Constância
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Flexibilidade
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Paciência
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Energia emocional
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Capacidade de lidar com comportamentos inesperados
E, no meio disso tudo, muitas mães se cobram de forma excessiva.
Por favor, lembre-se:
Você não precisa ser perfeita. Você precisa ser apoiada.
Procurar profissionais, pedir ajuda, ajustar rotinas e priorizar autocuidado não é fraqueza — é estratégia de sobrevivência.
5. As conquistas são imensamente mais emocionantes
Quando seu filho:
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Te olha nos olhos
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Imita um gesto
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Prova um novo alimento
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Dorme melhor pela primeira vez
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Aprende uma palavra nova
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Consegue participar de um momento social
Esses pequenos grandes passos têm um significado indescritível
É como se o mundo parasse.
Vocês venceram juntos.
6. Você se torna a maior defensora do seu filho
De repente, você aprende sobre:
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Direitos
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Terapias
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Laudos
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Ensino inclusivo
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Estratégias comportamentais
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Rotinas sensoriais
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Neurodesenvolvimento
Você vira pesquisadora, advogada, cuidadora, psicóloga da rotina, e ainda tenta ser você mesma.
A maternidade atípica é intensa, mas também é uma forma profunda de amor ativo.
7. Ter uma equipe confiável faz toda a diferença
Ninguém deveria trilhar essa jornada sozinho.
Como pediatra especialista, meu papel é:
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Acolher sua família
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Orientar cada dúvida
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Investigar sinais precoces
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Ajustar terapias
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Acompanhar sono, alimentação e comportamento
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Proteger o bem-estar emocional da mãe e da criança
Se você sente que há algo diferente no desenvolvimento do seu filho, ou se simplesmente quer uma avaliação cuidadosa, estou aqui para ajudar.
Juntos, podemos transformar desafios em estratégias — e incertezas em clareza.
Conclusão
A maternidade atípica não é fácil, mas é repleta de beleza, força e descobertas.
Cada criança tem seu tempo, seu jeito, sua neurologia — e merece ser compreendida, respeitada e estimulada.
E você, mãe, merece ser acolhida.
Eu estou aqui para caminhar ao seu lado.
Se quiser agendar uma consulta ou tirar dúvidas sobre desenvolvimento, autismo, sono, alimentação ou comportamento, será um prazer acolher sua família.