Andar na ponta dos pés: quando é normal e quando investigar?
Como pediatra que acompanha muitas crianças com desafios no desenvolvimento, recebo com frequência a pergunta:
“Meu filho anda muito na ponta dos pés. Isso é normal?”
A resposta é: depende.
Existem situações totalmente benignas — mas também momentos em que esse comportamento pode ser um sinal de que algo merece atenção.
Neste post, quero te ajudar a entender o que observar, quando é esperado, quando é um alerta e quando buscar avaliação.
Quando andar na ponta dos pés é normal
Muitas crianças, principalmente entre 1 e 3 anos, passam por fases em que caminham na ponta dos pés. Isso faz parte do processo natural de descobrir o próprio corpo.
É considerado normal quando:
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A criança alterna entre andar normal e na ponta dos pés
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O comportamento aparece ocasionalmente
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Não há quedas frequentes
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Habilidades motoras grossas (andar, correr, pular) as habilidades motoras estão adequadas
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A criança consegue apoiar o pé inteiro quando solicitada
Crianças pequenas adoram explorar novas sensações — e andar na ponta dos pés pode ser apenas uma brincadeira sensorial.
Quando acende o sinal de alerta
O comportamento merece investigação quando:
1. A criança anda na ponta dos pés a maior parte do tempo
Se isso acontece de forma constante, todos os dias, por meses, vale atenção.
2. Há rigidez no tendão de Aquiles
Dificuldade para encostar o calcanhar no chão pode indicar encurtamento muscular.
3. Há atraso em outras áreas do desenvolvimento
Especialmente na fala, comunicação ou socialização.
4. A criança evita determinadas texturas no chão
Pode estar relacionado a sensibilidade sensorial aumentada.
5. Há quedas repetidas ou dificuldade de equilíbrio
Pode ser sinal de alteração motora.
6. O comportamento persiste após os 3 anos
Após essa idade, o ideal é investigar.
Quando andar na ponta dos pés pode estar relacionado ao autismo
Algumas crianças no espectro autista caminham na ponta dos pés devido a:
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Hipersensibilidade sensorial
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Busca de estímulo proprioceptivo
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Dificuldade na integração sensorial
Mas é importante reforçar:
Andar na ponta dos pés não significa automaticamente autismo. É apenas um dos sinais que, somado a outros, pode levantar suspeita.
Quando pode estar relacionado a alteração muscular ou ortopédica
O encurtamento do tendão de Aquiles (comum em alguns casos) pode levar a:
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Dificuldade para apoiar o calcanhar
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Dor ao tentar pisar normalmente
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Maior rigidez ao caminhar
Nesses casos, avaliamos a necessidade de fisioterapia, exercícios de alongamento e, em alguns casos, órteses.
Quando pode ser um sinal neurológico
Menos comum, mas possível.
Em situações como paralisia cerebral leve, alterações de tônus podem levar a caminhar na ponta dos pés.
Por isso, a avaliação é sempre completa — motora, sensorial e neurológica.
Quando procurar avaliação pediátrica
Procure avaliação comigo (ou com seu pediatra de confiança) quando:
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O comportamento é persistente (meses)
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Acontece na maior parte do dia
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Vem acompanhado de atraso de fala, fala monótona ou ecolalia
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A criança evita contato visual ou interação
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Há sensibilidade a sons, luzes ou texturas
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A criança cai muito ou parece “desequilibrada”
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Você sente que “algo não está acompanhando o esperado”
Seu instinto como mãe, pai ou cuidador conta muito.
Se algo não parece certo, vale investigar — e quanto antes, melhor.
Como é a avaliação na consulta
Na consulta, avalio:
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Tônus muscular
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Coordenação motora
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Sensibilidade sensorial
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Desenvolvimento global
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Linguagem, comunicação e socialização
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Histórico gestacional e perinatal
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Marcos do desenvolvimento
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Rotina de sono, alimentação e comportamento
Com isso, conseguimos entender o contexto completo — e orientar o melhor caminho.
E o tratamento
Depende da causa:
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Fisioterapia motora
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Terapia ocupacional com integração sensorial
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Alongamentos estruturados
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Orientação para a família
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Acompanhamento do desenvolvimento
Quando há sinais associados a TEA, atraso global ou suspeita neurológica, seguimos com investigação ampliada.
Mensagem final para as famílias
Se seu filho anda na ponta dos pés, saiba que você não está sozinho(a).
Muitas famílias me procuram com essa mesma dúvida — e quase sempre encontramos um caminho seguro, acolhedor e baseado em evidências para ajudar a criança a se desenvolver da melhor forma possível.
Se você percebeu esse comportamento com frequência, se está inseguro(a) ou se quer uma avaliação completa, estou aqui para ajudar.
Agende sua consulta — será um prazer acompanhar o desenvolvimento do seu filho com cuidado, escuta e responsabilidade.